Como achar graça na rotina?


Li recentemente uma entrevista do psicanalista Contardo Galligaris sobre a felicidade, na qual ele enfatiza que o melhor a ser feito é não procurá-la, mas sim buscar bem estar no dia-a-dia. Ele continua dizendo que é mais recompensador o ato de sentir-se competente no trabalho do que a própria remuneração. Leandro Karnal fala em um dos seus vídeos sobre a necessidade de o cidadão contemporâneo parecer feliz. Ao contrário dos nossos avós que em raras oportunidades reuniam-se para tirar retratos e todos permaneciam sérios, hoje verifica-se uma banalização da imagem, beirando ao ridículo em algumas situações. A necessidade de mostrar sucesso e felicidade nas redes sociais tem causado diversos transtornos, como a ansiedade e a depressão. Nunca índices tão altos de depressão foram registrados, em contraponto com uma multidão que se autodenomina a mais feliz de todos os tempos. Hoje parece que todo mundo tem uma vida sensacional, só come em restaurantes phinos e viaja toda semana para lugares incríveis. Racionalmente, sabemos que os simples mortais não tem esta vida de badalação diária e, querendo ou não, todos temos uma rotina. 
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Sabem, a palavra rotina teve um significado muito pejorativo atribuído a ela, na minha opinião. Fala-se muito sobre a necessidade de “quebrar a rotina”, “sair da rotina”, “não deixar cair na rotina”. Gente, a rotina não é algo ruim. Mesmo. Precisamos ressignificar nossa rotina, enxergar com novos olhos o que vemos diariamente. Meu trabalho é o mesmo todos os dias, mas o trajeto para chegar até ele pode e deve ser outro, tenho o privilégio de uma vista maravilhosa, nada impede que eu tenha plantas em minha mesa e converse com pessoas amigas que hoje não são as mesmas de ontem, pois estamos em constante transformação. Em casa, o que me impede de acordar mais cedo e absorver o silêncio das paredes e assistir ao nascer do sol? Por que não mudar o jeito de arrumar as gavetas, usar pratos, taças, toalhas, lençóis bonitos que ficam guardados esperando uma “ocasião especial”, testar uma nova receita ou uma nova forma de fazer aquela receita que tanto gosta? 
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O que quero dizer com isso tudo é que é bom conhecer um lugar novo­ − dar uma lufada de ar fresco na vida – (preencha com aquilo que seria o sair da rotina pra você), mas acima de tudo é gostar da vida que se tem, curtir sua casa, suas coisas, seus amigos, sua família...E se algo não tiver bom, tente melhorar e mudar o modus operandi, ou seja; o jeito de fazer as coisasCurtir inclusive aqueles dias que não são muito legais, mas com paciência. Ontem, aliás, tive um dia daqueles (foi o ó) onde tudo dá meio errado desde o momento em que acordamos, sabe? Mas perder a calma e descontar nos outros não tornaria meu dia melhor...precisei de um autocontrole muito, muito grande...que só consegui devido a alguns aprendizados da doutrina espírita. Dá trabalho a tal reforma íntima, dá muito trabalho tentar vencer as más tendências e não é todo dia que dá certo. Mas ontem deu e o pior já passou. O que eu mais desejo neste dia é ter mais dias com foco no bem estar e menos dias tentando ser feliz. Se a felicidade bater à porta será bem-vinda, mas não ficarei correndo atrás dela. E tenho dito!

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